Papel Ganha de Pedra (e de Plástico)
Por Gabriel Boente
Alguns anos atrás, um objeto ganhou os holofotes: o canudo. Apesar de ser comum em nosso dia a dia, esse objeto de plástico foi considerado o principal vilão contra as tartarugas marinhas (como se não houvesse outros tipos de lixo nos oceanos).
Disso surgiu uma mega campanha pela substituição dos canudos de plástico pelos feitos de papel. O que nos impressionou não foi a campanha e sim a efetividade dela, já que, em grandes estabelecimentos, o canudo de papel está bem consolidado.
Não é novidade que o plástico é nocivo ao meio ambiente há muito tempo. Mas também sabemos que o mundo, apesar dessa consciência, caminha a passos lentos para uma grande mudança. Mas ainda caminha.
A Índia e a União Europeia, em 2021, anunciaram a proibição do plástico de uso único para combater o desperdício e a poluição. Até 2025, grandes multinacionais como a Coca-Cola e a Unilever, irão abandonar os plásticos de uso único. Estamos falando de bilhões de consumidores que serão impactados com essas transformações, que já estão acontecendo.
Em termos de embalagem, a Klabin (KLBN11) sai na frente por ser um dos principais players do mundo. Aliás, o investimento no Puma II é justamente para aproveitar essa onda da substituição de embalagens de plástico pelas de papel.
A questão é que não sabemos ao certo o quão forte será essa onda. O mundo tem grande histórico de não cumprir seus objetivos e isso até poderia ser um abacaxi se não fosse por uma tendência recente (mais forte que o salvamento de tartarugas): o e-commerce.
Por conta da pandemia houve uma adesão em massa ao comércio online. Isso favoreceu bem o mercado de embalagens de papelão. Acreditamos, assim, que a preferência dos países pelo papel ao invés de plástico seja um gatilho, e poderá surpreender as vendas da Klabin, que já está se preparando para isso.
Mas será que isso faz da Klabin realmente um bom investimento? Pra descobrir, não deixe de conferir o VBOX da empresa!
ISP evolui para SSP
Por Guilherme Cruz
Internet passou a ser commodity. Quem oferece um preço melhor pela mesma velocidade (ou mais, claro) fica com o cliente.
A tese da WDC Networks (LVTC3) é a de que os provedores de Internet e as operadoras de telecomunicações deixarão de ser ISPs - Internet Service Providers para se transformarem em SSPs - Solution Service Providers.
Isso significa que os ISPs não oferecerão mais apenas produtos core de telecom, mas complementarão sua operação com várias soluções para o mercado de B2C como segurança eletrônica e automação residencial, por exemplo. Isso tudo pra se diferenciar, já que “só” Internet não é mais suficiente. E claro, a WDC espera ser a fornecedora de todas essas combinações elevando o seu nível de cross-sell (venda de produtos ou serviços complementares ao que foi adquirido pelo cliente).
Nisso, até o solar entra na jogada. Como os provedores de Internet têm grande demanda de energia nas suas operações, a WDC tem visto um grande interesse deles não só por suas soluções de Telecom e Enterprise, mas também pelas suas placas de geração solar.
E não para por aí, essa dinâmica competitiva de mercado favorece também o up-sell (venda de um produto mais completo, moderno ou maior do que o cliente inicialmente se propôs a comprar) da empresa.
O ISP não pode vacilar com a qualidade do seu produto. Hoje, no poste da frente da casa de quase todo mundo tem pelo menos mais umas 3 fibras passando. Se a qualidade da Internet não está agradando, é fácil mudar para outro provedor — que talvez até ofereça um plano com um precinho menor, sabendo que está ganhando o assinante do concorrente.
Como o mercado não cresce mais a plenos pulmões e a concorrência é predatória, o provedor precisa se preocupar primeiro em não perder os seus clientes atuais pra só depois procurar conquistar novos fregueses. Isso favorece o up-sell da WDC com os provedores cada vez mais interessados em ter a tecnologia com a melhor qualidade disponível.
Além da forte competição do setor, há outro fator que vem alterando o mercado de Telecom.
O leilão do 5G no Brasil aconteceu em novembro de 2021 e, desde então, algumas das principais cidades do país já contam com o sinal.
Uma das metas definidas pela Anatel é a implantação de 1 ERB (Estações Rádio Base, em bom português: antena) pra cada 100 mil habitantes nas capitais.
O 5G promete entregar uma velocidade até 100x mais rápida que a do 4G. Porém, dado o seu alcance de onda menor, ele precisa ter mais antenas distribuídas em intervalos menores do que o 4G. Estamos falando de uma quantidade de 5 a 10x maior que a atual. Hoje, de acordo com o edital do leilão, o Brasil possui 103 mil antenas. Logo, vamos pra algo entre 515 mil e 1 milhão delas. Elas não serão necessariamente as torres gigantescas que estamos habituados, as antenas do 5G podem ser de menor porte, até mesmo do tamanho das antenas de Internet a rádio).
Mas não é só o número de antenas que precisará aumentar.
O alto tráfego de dados proporcionado pela rede 5G vai mudar a forma com que os data centers estão distribuídos.
Hoje existem cerca de 100 grandes data centers no Brasil. Com o 5G eles poderão chegar aos milhares. Porém, assim como as antenas, também com tamanho reduzido.
Estamos falando dos edge data centers ou data center de borda, uma rede de micro data centers que estarão mais espalhados pelas cidades, possibilitando a baixa latência e alta velocidade de transmissão de dados requerida pelo 5G.
O 5G promete uma verdadeira revolução tecnológica em várias áreas, desde carros autônomos, passando por fábricas inteligentes e até a popularização das cirurgias robóticas. Tudo isso, claro, vai ser extremamente dependente de redes de Internet cada vez mais seguras e rápidas.
A WDC pode muito bem crescer junto com o 5G no Brasil. Pra isso, ela conta com um catálogo abrangente de equipamentos de vários fornecedores e ainda com uma grande parceria com a Huawei, sendo a distribuidora exclusiva de todo o portfólio de data center da fabricante por aqui.
Ficou interessado na WDC e no mercado de telecom? Então confira o VBOX! Temos o relatório com a análise qualitativa completa da empresa, além da planilha com seu Valuation detalhado. E mais: a principal empresa do setor do Brasil, a Vivo (VIVT3), deve estrear por lá também em breve.
Qual será a próxima moeda?
Por @Saulo Pereira
Se tem uma coisa que todo mundo odeia é a inflação. Nós, brasileiros, principalmente os que viveram na década de 1980, não temos boas lembranças quando ouvimos essa palavra. Ver nosso poder de compra diminuindo é algo assustadorl.
De todo modo, Dinheiro é algo que todos nós precisamos para viver. Ao longo do tempo muitas coisas já foram usadas para simbolizar valor e muitos países já tiveram sua moeda usada como referência no comércio internacional.
Aparentemente, estamos passando por mais um momento de transição monetária mundial.
Da origem da moeda até os dias atuais
Desde os princípios do comércio, quando as pessoas ainda trocavam um produto por outro através do escambo, a humanidade busca formas de efetuar negócios em troca de algo que tenha uma espécie de valor universal. Foi por causa disso que surgiram as primeiras moedas, e metais como ouro e prata passaram a ser vistos como itens de grande valor, aceitos por diferentes civilizações.
O mercado internacional é fortemente baseado em uma moeda que domina o mundo há quase um século: o dólar. E isso tem um grande impacto direto no nosso bolso. O dólar influencia tanto as nossas vidas, que provavelmente você tem uma ideia de quanto ele está valendo hoje sem precisar pesquisar na internet.
Acontece que o dólar pode estar com os dias contados. Existe um país que quer que sua moeda seja a nova moeda de troca internacional.
Pode parecer um pouco estranho já que por aqui ninguém usa essa moeda para nada e se fala muito pouco dela. Muito provavelmente você não faz ideia de quanto ela vale sem dar um Google pra conferir. A questão é que, em mais um episódio da guerra comercial entre China e EUA, os chineses estão buscando fazer sua moeda se tornar a nova moeda de troca internacional.
Para entendermos como os “anos dourados” do dólar podem estar chegando ao fim, precisamos entender como os EUA tornaram sua moeda tão poderosa assim.
A ascensão do dólar
Até aproximadamente o início do século XX, a principal moeda internacional usada era a libra esterlina. O Reino Unido possuía a maior economia do mundo e era uma potência que conseguia influenciar o comércio a hora que quisesse.
Mas com a Primeira e a Segunda Guerra Mundial eles foram perdendo esse protagonismo e os EUA se beneficiaram, e muito, disso. De todos os países aliados que comandaram diretamente a Segunda Guerra Mundial, apenas os EUA não tiveram seus territórios bombardeados e destruídos.
Após o fim da Segunda Guerra e a vitória dos países aliados, o acordo de Bretton Woods foi firmado. O acordo envolveu todos os mais de 40 países aliados, incluindo os Estados Unidos e o Brasil. Ele estabeleceu que cada país deveria manter a taxa de câmbio de sua moeda ligada ao dólar.
Enquanto isso, o valor do dólar seria baseado no ouro de maneira fixa. Especificamente seria $35 dólares por onça. Era o chamado “Padrão Ouro”.
O principal objetivo dessa medida era trazer estabilidade monetária para as nações, lastreando suas moedas a uma única moeda forte e estável. Além disso, os Estados Unidos tinham a maior parte do suprimento de ouro mundial, sendo o único país com ouro suficiente para sustentar esse sistema.
Esse plano marcou a fundação do atual sistema financeiro mundial, já que também foi responsável por criar o Fundo Monetário Internacional, que assegura a estabilidade do sistema monetário internacional, e o Banco Mundial, cuja responsabilidade era emprestar dinheiro a longo prazo para favorecer o desenvolvimento e a reconstrução das economias devastadas pela guerra.
Foi assim que o dólar se tornou oficialmente a moeda de reserva internacional. Tudo caminhava muito bem, até que, em 1971, Richard Nixon decidiu acabar com o Padrão Ouro. Desde então, o único lastro que o dólar tem é a própria economia norte-americana e, em última instância, todo o arsenal.
O resultado imediato disso foi uma alta da inflação americana na década de 1970. Mesmo assim, o dólar se manteve forte como a principal moeda internacional e os países mantiveram suas reservas internacionais de dólar. Tanto que até hoje o dólar ainda é o campeão absoluto nas reservas pelo mundo.
Alguns fatores que contribuíram pra isso foram o fato de os EUA ainda ser a maior economia do mundo e também por ter grande influência no sistema financeiro mundial. Afinal, até mesmo as sedes do FMI e do Banco Mundial ficam lá na capital americana.
Além disso, os EUA têm grande influência no Swift, que é um dos principais sistemas que os bancos usam pra fazer transações internacionais. Em 2018, como forma de impor sanções econômicas ao Irã por conta do seu programa nuclear, os Estados Unidos pressionaram o Swift para excluir os bancos iranianos do seu sistema.
Nem é preciso dizer que todo esse jogo de poder também ajuda a manter o dólar numa posição de prestígio. Mas hoje em dia os países estão buscando alternativas para não depender tanto dos EUA. O banco dos BRICS é uma dessas alternativas, assim como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura. Certamente alguns países estão querendo que a hegemonia do dólar acabe e é aqui que a China entra em ação.
Como a China está planejando mudar o jogo?
A China é um país que vem crescendo bastante e se aproximando de maneira rápida dos EUA. Mesmo com a pandemia, a economia chinesa continuou crescendo.
Muitos acreditam que a China não quer apenas que outros países comprem dela, ela quer ter influencia nesses países. Os empréstimos dos bancos chineses são feitos a juros baixíssimos e financiar os países menores que, muito provavelmente, não vão ter condições de pagar as dívidas é uma boa estratégia pra impor condições favoráveis à China. Como já dizia o grande Milton Friedman: não existe almoço grátis.
Parte dos empréstimos da Iniciativa Belt and Road é feito em yuan, a moeda chinesa que contribui diminuindo a influência americana e aumentando a chinesa.
É importante também mencionar que o RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership) é o maior bloco comercial do mundo e engloba mais de 30% da população mundial. Esse acordo inclui diversos países da região Ásia Pacífico e não conta com os EUA. É mais um acordo que permite que a China tenha muito mais influência em grandes economias mundiais, como Japão, Austrália e Coreia do Sul.
Outra frente importante da estratégia para impulsionar o yuan globalmente é a tecnológica. A China tem buscado ser pioneira em vários avanços no mundo da tecnologia financeira, com destaque para a introdução do yuan digital. O governo chinês investiu pesado para criar uma versão digital da sua moeda, que usa a tecnologia de blockchain, a mesma usada em criptomoedas como o Bitcoin.
Mas será que isso tudo é suficiente para desbancar o dólar?
Qual será a próxima moeda?
Em 2015 o FMI concedeu ao yuan o status de moeda de reserva. Mas o caminho ainda é longo para o yuan desbancar o dólar, isso porque no quarto trimestre de 2022, as reservas internacionais em yuan, no mundo, eram de menos de $300 bilhões de dólares, enquanto que o total em dólares é de mais de $6 trilhões.
No Brasil, as reservas internacionais do governo são compostas majoritariamente por dólares americanos, com mais de 80% de alocação. Já a moeda chinesa tem menos de 5% de alocação. Mesmo a China sendo o maior parceiro comercial do Brasil, ainda usamos muito pouco o yuan como moeda de reserva.
Uma coisa é certa, a história nos mostra que ao longo do tempo novas moedas vão se tornando moedas de reserva. A questão não é “se”, mas quanto tempo o dólar vai aguentar ficar no topo. Enquanto tudo isso acontece, as criptomoedas vêm ganhando força.
O passado nos mostra que não dá pra confiar em governo algum, nem no americano, nem no brasileiro e muito menos no chinês. E se não podemos confiar nos governos, porque confiamos na moeda deles?
Não tem muito tempo que os governos do mundo todo pensaram que imprimir dinheiro fosse uma coisa boa para o longo prazo das economias. Só nos últimos 3 anos quase METADE dos dólares em circulação hoje foram impressos). A lei da oferta e demanda nunca falha e esse aumento da base monetária sem o aumento da produtividade vai fazer com que o dinheiro perca valor e tenhamos inflação. Na prática, a inflação é um imposto invisível, e talvez o pior de todos os impostos.
O Bitcoin surgiu justamente em 2008, ano da Crise do Subprime. Desde então o seu valor “só” subiu, e essa subida supostamente deve se tornar ainda mais acelerada a cada crise que os governos provocam.
Alguns países possuem criptomoedas como moedas de reserva, como a Ucrânia. Outros países consideram o Bitcoin como moeda oficial, como é caso de El Salvador. O Bitcoin pode ser, de fato, uma alternativa para as pessoas não verem seu dinheiro perdendo valor. Na Venezuela as pessoas trocam seus bolívares por Bitcoin, por conta da hiperinflação no país.
Talvez, no final das contas, o dólar tenha que enfrentar outro concorrente além da moeda chinesa.
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida.
- Cada ação que você toma é um voto para o tipo de pessoa que você quer se tornar. — James Clear
- As pessoas não decidem seu futuros, elas decidem seus hábitos e seus hábitos decidem seus futuros. — Frederick Matthias Alexander
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e não usem canudos de plástico.
Boa semana e bons negócios!
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